“A descoberta da fissura labiopalatina do meu filho foi um choque. Minha primeira preocupação foi com a alimentação dele, pois imaginava que não conseguiria mamar”, relembra Paula Sales, de Juazeiro do Norte, mãe de Matheus Noah, 5 anos, que nasceu com uma malformação congênita no fechamento do lábio e do palato, conhecido como céu da boca.
Matheus Noah, 5 anos, acompanhado pelo Naif desde o nascimento, já passou por duas cirurgias no Hias
Desde os primeiros dias de vida, Noah é acompanhado de pelo Núcleo de Atendimento Integrado ao Fissurado (Naif), do Hospital Infantil Albert Sabin (Hias). A unidade da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa) reúne uma equipe multiprofissional especializada em anomalias craniofaciais. “Hoje, ele leva uma infância saudável e cheia de conquistas”, comemora Paula.
“Noah já passou por duas cirurgias no Hias, a do lábio e a do palato, e continua sendo acompanhado no Albert Sabin. O apoio do Naif foi fundamental desde o início. Todos os profissionais foram compreensivos e humanos. Sinto que Deus colocou verdadeiros artistas em nosso caminho, não apenas profissionais de saúde”, completa.
Equipe multiprofissional do Naif realiza acompanhamento integral de crianças e adolescentes com fissuras labiopalatinas
O Naif funciona desde 2001 e oferece acompanhamento para crianças e adolescentes com fissuras labiopalatinas e outras anomalias craniofaciais. Segundo a coordenadora do Núcleo, Larissa Loiola, o cuidado vai muito além das cirurgias: “Nosso papel inicial é orientar e apoiar as famílias, que descobrem muitas vezes a fissura apenas no parto”.
“Ensinar como alimentar o bebê, evitar engasgos e garantir ganho de peso é fundamental. Depois, seguimos com o acompanhamento cirúrgico e reabilitação. Reabilitar essas fissuras e acompanhar a evolução das crianças é a nossa maior felicidade”, pontua.
O cirurgião bucomaxilofacial Assis Albuquerque reforça que a cirurgia é apenas uma etapa do tratamento. “Geralmente, corrige-se o lábio e o nariz, e depois realiza-se um procedimento para correção do palato. Depois, o acompanhamento segue com profissionais da ortodontia, fonoaudiologia e suporte psicológico. O atendimento multiprofissional é essencial não apenas para o sucesso dos procedimentos, mas também para o bem-estar emocional dos pacientes”, explica.
Ágatha, 1 ano e 8 meses, foi atendida no mutirão do Dia C de Cirurgias e realizou correção da fissura no Hias
A fissura labiopalatina pode ter diferentes causas. “Parte dos casos pode ter influência genética, quando há histórico familiar. Mas também existem fatores de risco ligados à gestação, como tabagismo, uso de álcool, alguns medicamentos”, detalha o cirurgião.
Foi o que aconteceu com a pequena Ágatha, de 1 ano e 8 meses. Sua mãe, Rayssa Uchoa, também nasceu com fissura e já conhecia casos na família. “Não fiquei muito surpresa com o diagnóstico, pois é de família, já estava ciente que ela poderia nascer com a fissura”, conta.
Ágatha foi uma das crianças atendidas no mutirão do Dia C de Cirurgias, realizado no sábado (20) pelo Governo do Ceará, por meio da Secretaria da Saúde do Estado (Sesa). “Fui surpreendida pela rapidez do serviço. Me ligaram para marcar a consulta com o cirurgião e, em menos de um mês, ela já estava sendo operada”.
“No dia da cirurgia chorei de felicidade ao vê-la, só conseguia pensar que minha filha estava ainda mais linda. Às mães que passam por essa situação, digo: cada fase é desafiadora, mas tudo será resolvido”, conclui a mãe.
Criança atendida durante o Dia C de Cirurgias, mobilização estadual para ampliar o acesso a procedimentos pelo SUS
O Naif do Hias é referência no Ceará e oferece atendimento gratuito pelo Sistema Único de Saúde (SUS), garantindo acesso a famílias que muitas vezes não teriam condições de realizar esse tipo de tratamento em clínicas privadas.
Paula Sales destaca a importância do serviço público: “Algo que me marcou foi perceber que, apesar de ser um programa do SUS, com demanda de todo o estado, é um serviço admirável. Não troco o acompanhamento que meu filho faz no Naif nem pelo do plano de saúde, que hoje é nossa segunda opção e não mais a primeira”.
Atualmente, o Naif do Hias conta com mais de 4 mil pacientes cadastrados, recebendo em média 15 novos pacientes por mês. O serviço oferece acompanhamento multiprofissional, envolvendo áreas como serviço social, psicologia, genética, odontologia, neurologia, fonoaudiologia, enfermagem, pediatria, cirurgia bucomaxilofacial e otorrinolaringologia, garantindo cuidado integral às crianças e adolescentes com fissuras labiopalatinas.
Para os pacientes do interior do Ceará, o primeiro passo é procurar a Secretaria de Saúde do município de origem e solicitar vaga na regulação para consulta de fissura labiopalatina hospitalar; já os pacientes de Fortaleza devem buscar a UBS (Unidade Básica de Saúde) do território.
Ao nível nacional, a Lei nº 15.133, sancionada em 7 de maio de 2025, determina que o SUS ofereça não apenas a cirurgia reparadora do lábio e palato, mas também todo o acompanhamento multiprofissional necessário. A nova legislação garante o encaminhamento precoce dos recém-nascidos diagnosticados, além de assegurar suporte integral e gratuito durante todo o processo de tratamento e recuperação. No Ceará, o Hias já oferece esse cuidado completo desde 2001, sendo referência no atendimento a crianças e adolescentes.
Segundo o Ministério da Saúde, cerca de 5 mil bebês nascem anualmente no Brasil com fissura labiopalatina. Estudos publicados pela Revista de Cirurgia Plástica Brasileira (RCPB), de prevalência de fissuras labiopalatais no Brasil e sua notificação no sistema de informação, apontam que essa é a malformação congênita mais comum no país, com incidência de 1,53 para cada mil nascidos vivos.
O tratamento é predominantemente realizado pelo SUS, com centros especializados como o Hias garantindo acompanhamento integral e gratuito para milhares de crianças e adolescentes.
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